quarta-feira, 28 de julho de 2010

O internato - Estágio VII

O passado trancado a sete chaves...



As palavras de Erika ecoaram em minha mente com uma força avassaladora.

- Seus pais ficaram muito preocupados com o seu sumiço e tiveram que vir às pressas e aquilo acontec...


- Chega! Não a deixei continuar. - Isso é um passado morto! Morto e enterrado! Gritei as ultimas duas palavras.


- Sam... Erika ainda tentava argumentar. - Olha...


- Não Erika! Respirei fundo. Jamais me permitiria chorar na frente de alguém.

- Você não vê? Não pode fugir pra sempre! Ela tentou segurar minhas mãos, mas eu me esquivei.


- Claro que posso, e vou! Nunca mais toque nesse assunto, entendeu? E sai transtornada.

Andei sem direção por algum tempo até me deparar novamente com a enorme estufa. Parecia que aquele lugar possuía uma força descomunal que atraia.

Lembrei imediatamente da noite anterior e de Sophie, e senti meu coração se apertar um pouco.


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Eu a esperava impaciente. O intervalo já estava quase acabando, e se ficasse mais tempo ali, seria minha 4° advertência naquele mês...


Havia uma grande construção com vigas de metal a minha frente, ao qual eu observava distraída. Não entendia por que ela tinha marcado justo ali.

- Demorei? Ouvi uma doce voz vinda de trás de mim, os lábios quase roçando em minha orelha direita.


Virei-me imediatamente e dei-lhe um selinho. - Nunca! Respondi sorrindo. - Mas, por que aqui?


Ela respondeu também sorrindo. - Ouvi uma das irmãs dizerem que isso. Disse apontando para a construção. - Vai ser uma estufa! Não é ótimo? Completou entusiasmada.

- O que é isso? Perguntei um pouco desconfiada, voltando a olhar as grandes vigas de ferro.


Senti seus braços me envolverem carinhosamente. - É um lugar pra se guardar flores...

Voltei a virar, também a envolvendo em meus braços. - Mas não vão poder guardar a mais bela delas... Você!


Seus olhos eram brilhantes, e acompanhados de um doce sorriso, transbordavam uma ternura infinita.


Beijamos-nos...

Mesmo aos doze anos eu já sabia que a amava...





- Malditas lembranças! Exasperei cansada.


- Você está bem?


Era a mesma voz... Anos se passaram, mas ainda era a mesma doce voz...

- Sam... O qu...


- Foi você que começou a me chamar assim... Não é? A cortei, e me virei a fitando longamente.

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Era o primeiro dia de aula.

E eu só queria ir pra casa...


Mamãe havia me dito que aquela era a melhor e mais bonita escola do mundo. Papai disse que eu deveria ter uma boa educação.

E eu só queria voltar pra casa com eles...



“Enorme!” Esse foi meu primeiro pensamente ao ver o Internato Sant Claire pela primeira vez.

E enorme também o sentimento de abandono que sentia por dentro.

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Eu estava no meu quarto guardando meus pertences. Quando uma menina, que parecia ter a mesma idade que eu, entrou.

- Oi, tudo bem? A menina me cumprimentou com um sorriso aberto.

- Oi... Eu respondi um pouco tímida.


Eu não estava com vontade de falar e nem ser amiga de ninguém ali...

- Meu nome é Sophie Lock... Lo-ear-th! Ela ainda se atrapalhava para dizer seu sobrenome...

- Samara Vasconcelos... Eu sempre o enobrecia...


- Hm... certo. Vou te chamar de Sam então! Fica mais fácil assim, não é? Pode me chamar só de Sophie também!


Aquilo me surpreendeu. A minha frente estava alguém que não só, não conhecia o nome da minha “nobre” família, como o diminuía.


E seu sorriso, naquele momento, me impedia de sentir qualquer sentimento de desgosto. Alias, era muito pelo contrario...



Sophie me encarava sem entender nada.


- Eu fui a responsável pela morte dos meus pais. É por isso que não posso ser feliz...
Pela primeira vez em muitos anos senti uma lágrima queimar meu rosto. - Eu fiz essa promessa...

- Do que está falando? Ela perguntou desconfiada.

- Eu havia bloqueado tudo isso da minha mente. Mas foi em vão afinal...

- Sam, aqui não tem platéia alguma. Ela me interrompeu secamente. - Não há necessidade de mentiras ou fingimentos. O verde dos seus olhos pareceu-me mais escuro que o normal. - Eu só fui mais uma da sua “listinha”. Jamais existiu um “nós”! Ela fazia questão em frisar as palavras.

- Não faz mais diferença se você acredita ou não em mim. Sequei a lágrima solitária em meu rosto. - É até bom que pense dessa forma... A última frase saiu meio que num sussurro para mim mesma.

E caminhei sobe a tenaz luz do luar...

De volta aos dormitórios...

A decisão estava tomada, e eu jamais poderia voltar atrás.

Foi com essa convicção que acordei no dia seguinte.

Para isso era preciso reagir...

Continua...

2 comentários:

  1. Interessante... cada vez mais curiosa xD

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  2. Confesso que ainda não comecei a ler. Mas antes de qualquer coisa... cadê o final da história? Me recuso a começar sem ver que tem final. Ou vai ser frustrante chegar até aqui e... o.o'
    Beijos, moça!

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