sexta-feira, 16 de julho de 2010

O internato - Estágio II

Os olhos verdes...


Após algumas horas incomodas abordo do jatinho, ele finalmente aterrissou em nosso destino. Da janela vejo sem muito animo o que será meu lar por mais um ano. Afinal, quem poderia se animar com a visão de um pequeno vilarejo, no fim do mundo?

- Senhorita Vasconcelos, chegamos. O piloto interrompe meus pensamentos fazendo-me encará-lo momentaneamente. Desviei novamente o olhar para a janela ao meu lado dando um breve suspiro. - Ok... Respondi me levantando e sem procurar esconder meu descontentamento em estar ali.


Desci a pequena escada sem muita convicção, pois diferente do luxuoso e
confortável aeroporto, onde embarquei à algumas horas atrás, me deparo agora com apenas duas longas pistas de asfalto, somente para aeronaves de pequeno porte. Normalmente as pessoas chegavam até “aqui” de carro ou ônibus. (In)felizmente, para os Vasconcelos, “normal” era uma palavra que não existia em nosso vocabulário...


Só então percebi o espaçoso e luxuoso carro a minha espera, ao lado um senhor de cara bondosa e um tanto já idoso, vestindo-se impecavelmente em seu terno preto, à minha espera.


- Senhorita Vasconcelos. Ele me fez uma pequena mesura ao se aproximar, enquanto sorria gentilmente. Fazendo com que eu o fitasse um tanto impaciente. Ele não mudava mesmo...


- Eis-me aqui... Sorri cinicamente para ele. - De volta à prisão!


- Não diga isso menina... Censurou-me Harold de forma complacente, ele era meu motorista desde que eu me entendia por gente, e também um grande cúmplice nas minhas “aventuras”. - A Srtª deve estar cansada da viagem... Comentou já abrindo a porta do carona e indicando para que eu entrasse.


- Um pouco... Concordei desanimada enquanto adentrava a luxuosa limusine.


- Quer ir direto para os dormitórios? Perguntou preocupado.


Por um instante pensei no que me aguardava. Fazia dez anos que aquele lugar era minha casa. Atrás daquele pequeno vilarejo comum situava-se um Internato que de comum não tinha nada. Um dos colégios internos mais prestigiados do mundo, frequentado pelas filhas das mais ricas e importantes famílias. Eu disse filhas mesmo, pois ele era exclusivamente feminino...


Era um aborrecimento sem fim ter que aturar todos os dias aquelas aspirantes a princesas, cheias de si em suas intermináveis conversas superficiais. Mas, enfim, se aquela era minha sina... Eu tinha que pelo menos olhar o lado positivo das coisas... Elas eram excelentes passatempos em minha cama...


Voltando a realidade consultei o relógio, ainda era cedo. E a grande maioria das estudantes só chegaria amanhã de manhã. - Talvez seja melhor ficar por aqui mesmo esta noite...

- Como desejar... Completou Harold obediente.

Adentramos à vila em baixa velocidade, com Harold falando sobre os últimos acontecimentos sobre suas férias, eu nem me dava ao trabalho de fingir interesse, apenas observava distraidamente o cenário rústico.


Atravessávamos a maior e mais movimentada rua, se é que podia ser chamada de rua, já que nem asfaltada era, da pequena e pacata vila quando algo me chamou a atenção. Uma garota, provavelmente da minha idade, saia de um dos vários mercadinhos locais, ela possuía uma beleza tão rara e atordoante que parecia arrancar o ar dos meus pulmões e ofuscar qualquer outra coisa que minha pobre mente quisesse registrar. Tudo acontecia em questões de segundos. Ela parou e pareceu fitar-me como se pudesse ver através da grossa camada do isufilm... Eu, inconsciente de minhas ações, já estava com as mãos espalmadas no vidro... Ela era linda... Não uma beleza superficial ou vulgar a qual eu estava acostumada... Seus olhos incrivelmente verdes transbordavam uma infinita e intensa ternura que conseguiam atingir-me em cheio... Poucos segundos, que para mim ficaram cravados como uma eternidade.


Quando dei por mim ela já havia ficado para trás, apenas como mais uma anônima... Senti meu coração se apertar um pouco com essa conclusão, a ânsia somada à esperança de revê-la tomou conta de mim naquele instante.


- Está me ouvindo Senhorita? Harold me olhava preocupado pelo espelho retrovisor, certamente estranhando me ver daquele jeito.



- Ah, sim... Voltei a me acomodar na poltrona e esbocei uma careta de desentendida.

Harold riu e continuou.

- Ouvi dizer que o festival anual, em comemoração à boa colheita, começa hoje...

- Serio? Festival? Forcei uma careta ainda maior tentando imaginar a cena bizarra que devia ser esses caipiras “tentando” se divertir. Mas, parando para pensar melhor, era melhor do que ficar sozinha no hotel. - Hum... Podemos ir? Perguntei desinteressada. Já estava em meu ritmo normal novamente... Vai que eu acho alguma caipira que me fiça não me arrepender de acordar na manhã seguinte? Dei um risinho abafado diante de tal pensamento.


- Qual a graça? Harold me perguntou curioso.


- Eu estava pensando no quanto eu poderia absorver sobre a cultura local... Fiz uma cara seria e compenetrada. Mas, por dentro, meu pensamento era se alguma dessas caipiras sabia, ao menos, beijar direito... - Então, podemos? Fiz-lhe um olhar de súplica.

- Se a Srta. Deseja... Não vejo mal algum... Pelo retrovisor, pude ver seu sorriso carinhoso ao qual correspondi da mesma forma. Harold, com certeza, era mais pai que os estranhos com quem passava meus verões e feriados prolongados...

Voltei a olhar pela janela. Não sabia dizer por que, mas algo me dizia que esse festival prometia...


Às 20hs em ponto já estava pronta. Usava uma calça de sarja, cor caqui, all star, uma regata branca justa e uma jaqueta de couro vermelha, de jóias apenas um fino cordão em ouro branco com um pingente oval, daqueles que guardam fotos em seu interior. Não gostava de ostentar riqueza no meu modo de vestir, isso era brega e ultrapassado. Até por que, mesmo me vestindo de maneira simples sempre conseguia ser o centro das atenções, fosse pelo meu sobrenome ou pela beleza... Branquíssima, quase etérea, alta com um corpo bem modelado, invejado ou desejado - até mesmo os dois - pelas garotas. Um cabelo liso e ruivo que caiam em forma de “V”até um pouco abaixo dos ombros e olhos de um raro tom de azul, que às vezes podiam ser tão límpidos como o céu sem nuvens, e noutras escurecidos como o mar revolto. Combinação perfeita para conceder-me um ar “angelical”.

Batidas à porta interromperam minhas divagações momentâneas, e fui imediatamente abri-la. Harold, como sempre, era pontual e estava impecável em seu uniforme de motorista.


- Quantas vezes já lhe disse que não precisa se vestir assim quando estivermos a sós? Tentei falar ranzinza, embora meu sorriso me denunciasse.

- Muitas vezes. Ele respondeu simplesmente. - A Srta está linda! Completou com um brilho paternal no olhar.

- Também lembro, de já ter-lhe dito inúmeras vezes para não me chamar de senhorita...

Ele sorriu enquanto fez uma mesura para que o acompanhasse.

Chegamos ao lugar do festival em poucos minutos, e logo percebi que não havia nada demais, era igual a qualquer outro, digno de uma vilazinha pobre e sem graça. Harold havia ficado a minha espera no carro. Eu percorria as barraquinhas, entediada tentando não rir dos “pobres” coitados que tentavam impressionar as caipiras no “Tiro ao alvo”, contudo eles ficavam apenas no “tentar” mesmo, pois eram raras as vezes que conseguiam acertar algo, e elas esperançosas em ganhar as pelúcias maiores, coitadas...

Tinham que se contentar em receber um chaveirinho qualquer...


Ocasionalmente o meu olhar de caçadora percorria os lugares em busca do que poderia ser um bom passatempo. Eu não era do tipo que se contentava com qualquer uma, entretanto, as mais bonitas já estavam acompanhadas. Claro que eu poderia facilmente seduzi-las, algumas até já me lançavam olhares nada inocentes, mas, aquela noite não era para confusões... Pensei desanimada.


Enfim, já estava para desistir e dar a noite por encerrada quando eu a encontrei. Era ela! A moça do olhar mais penetrante que eu já vira! Ela observava desatenta uma das barraquinhas de artesanato. Dessa vez eu tive tempo suficiente para admirá-la melhor. Ela era um pouco mais baixa que eu, pela calça jeans eu pude notar que suas coxas eram grossas, ela possuía um corpo cheio de curvas que parecia ter sido esculpido por um verdadeiro artesão grego. A pele era pouco bronzeada do sol e os cabelos soltos, um pouco ondulados nas pontas e cor de mel que caiam pelo seu rosto perfeito e delicado e iam até o meio das costas. Entretanto, foi quando ela se virou para mim completamente que eu pude contemplar na integra a exuberância daquelas esmeraldas ofuscantes...


Era algo muito raro uma mulher me tirar o fôlego, mas ela conseguia isso tão facilmente... E apenas com um olhar... Aqueles olhos me fitavam com uma vivacidade que eu jamais havia visto, quem sabe estranhando uma garota parada praticamente babando por ela... Lançou-me um sorriso enigmático, quase imperceptível, que eu achei absurdamente lindo e sumiu no meio da multidão... Acho que precisei de alguns minutos para recobrar a razão, e perceber que a havia perdido novamente...


Nossa, que idiota que eu fui... Como pude ter a deixado fugir assim? Andei um pouco rápido e impaciente à sua procura. Eu a queria, isso era fato!


As horas passaram lentamente sem que eu a tivesse reencontrado. Onde raios ela se enfiou? Debaixo da terra? Pensei frustrada. Ela, com certeza, era linda demais para ser uma simplória caipira daquele vilarejo... Não havia chances de uma beldade daquelas ter nascido aqui nesse fim de mundo... Portanto, só poderia ser uma aluna recém chegada... E sendo esse o caso, cedo ou tarde nos encontraríamos novamente!


No entanto, essa fatídica conclusão não resolvia meu problema de hoje. Hoje, eu queria ir pra cama, e queria com alguém que valesse a pena!


Eu decidi não perder mais tempo e tratei de pegar a primeira garota “pegável” que vi pela frente. O que não era nada difícil pra mim... Aliás, ela não era apenas “pegável” era até bonitinha, e bem saidinha também, já estava toda sorrisos apenas por que consegui para ela o maior urso da barraca de tiro ao alvo. Depois disso, foi bem fácil fazer que com nos afastássemos das luzes do festival... Indo parar em um pequeno bosque ali próximo.


- Você é linda! Sussurrei ao seu ouvido, atrás dela. Fingia um deslumbramento que não sentia. Afinal, qualquer mulher, caipira ou não, adorava receber elogios...

- Ah. . Obrigada... Você também é... Calei-a com um beijo. Não queria saber de muita conversa.


Contudo, tive que conter o riso para não estragar o momento. O modo como ela reagia aos meus mais singelos toques, tremendo e sufocando gemidos, deixou claro que ela ainda era inocente. Então, me afastei um pouco e a fitei aparentando preocupação. - Você quer mesmo isso? Perguntei calidamente.


Ela me olhou, e corou ainda mais, se é que isso era possível. - Quero... Respondeu sem muita convicção.


Eu senti pena da fragilidade dela. Como podia... Ainda virgem? Isso quase me fez desistir... Quase, por que, naquele momento eu a queria mais que tudo... Por aquela noite...

Comecei com beijos suaves e outros mais ávidos, enquanto minhas mãos já dançavam suaves sobre seu corpo, despertando pequenas descargas elétricas sobre nossos corpos. Tirei suas roupas lentamente, peça por peça, sem perder o contato com seus olhos cor de mel. Não sei por que ela me lembrava alguém, e o pior é que eu nem sabia quem. Ela até tentava tirar minha roupa, mas não permiti, tirei apenas a jaqueta jogando-a de lado.


Ela já estava em meus braços só de calcinha e sutiã...


Foi quando subi o olhar que percebi que estava sendo observada. E não era por qualquer um. Era ela! Seria perseguição? Aquele olhar tinha o dom de me hipnotizar... Eu não lembrava mais nem o que estava fazendo!

Mas, dessa vez não iria me render assim tão fácil. Encarei-a tentando compreender por que os olhos que antes transpareciam tanta vivacidade e ternura, agora esboçavam uma fúria contida e outra coisa, a qual não conseguia distinguir...


- Caroline?! Mesmo parecendo furiosa, sua voz era tão adocicada como o mel. -Vamos, já está na hora de ir! Só então me dei conta do que se passava. Eu estava numa situação, no mínimo, bastante embaraçosa com a caipira, quer dizer, Caroline... Era esse o nome dela, então? Nem tinha me dado o trabalho de perguntar...

Abaixei-me para pegar a minha jaqueta tentando ganhar algum tempo e percebi pelo canto do olho que Caroline se vestia as pressas e a muito contra gosto, embora esboçasse um pequeno sorriso quando percebeu que eu a olhava.

Levantei-me ainda sem saber o que fazer ou dizer. Aquela desconhecida tinha o dom de me deixar assim. Quando, enfim, a fitei e ela lançava um olhar raivoso à garota a nossa frente, mas logo em seguida voltou-se para mim. - Ela é minha irmã... Disse visivelmente frustrada.


Continua...

2 comentários:

  1. A história parece boa!

    Mas a personagem principal não é a mocinha, isso eu tenho certeza...

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  2. Concordo com o comentario acima!
    o que alias faz a estória interessante e diferenciada.

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